“Eu
estou aqui para adquirir novos conhecimentos porque o mercado está
muito competitivo”. São com estas palavras que o senhor João Ferreira,
de 50 anos, justifica sua participação no curso de pintor de imóveis, do
SENAI, que está sendo desenvolvido na cidade de Cruzeta, a 230
quilômetros da capital potiguar.
Seu João é um dos poucos homens
da turma de 16 alunos. Destes, 11 são mulheres em busca de oportunidade
no setor da construção civil. O curso faz parte do Programa SENAI de
Ações Inclusivas – PSAI, que tem, entre outros objetivos, o de inserir
mulheres em profissões estigmatizadas como sendo exclusivamente
masculinas.
O programa de inclusão do SENAI também desenvolve
cursos voltados para requalificação de pessoas com mais de 45 anos e
busca oferecer condições de competitividades a pessoas inseridas em
grupos considerados desfavorecidos socialmente, a exemplo de
deficientes, negros e índios.
Na turma do programa em Cruzeta já é
possível observar os resultados. “As mulheres estão mostrando bastante
interesse. Temos uma baixíssima evasão. Houve apenas uma desistência e
preenchemos a vaga imediatamente”, relata o professor do curso de
pintura em parede, Wunglen Santos.
O professor acrescenta ainda
que no início das aulas algumas alunas ainda enfrentaram preconceitos
para conseguir fazer parte da turma. “Tivemos casos aqui de mulheres que
enfrentaram problemas com os maridos, que não queriam permitir que elas
entrassem para a turma. Aítive que conversar com eles e mostrar que não
havia nenhum problema. Eles acabaram aceitando”, afirma.
Aracely
Carla, de 32 anos, já faz planos para começar a tornar este trabalho um
meio de renda. Ela é moradora da zona rural e para participar do curso,
tem que atravessar um açude usando uma canoa. “Sou pescadora há oito
anos, mas tenho dois filhos para criar e penso no futuro deles. Preciso
de emprego e busco aqui oportunidades”, diz a aluna.
As
participantes do curso dizem que possuem uma vantagem em relação aos
homens. “Nós mulheres somos, normalmente, caprichosas e utilizamos isso
até no momento de pintar”, defende a dona de casa Erivanete Gomes.
Esta
“tese” também é defendida pelos alunos. “Tem que acabar com esse
preconceito de achar que mulher deve ficar sempre em casa. A mulher faz
muito mais bem feito do que o homem. Se tiver que fazer na minha casa,
contrato uma delas”, brinca João Ferreira.
Entre elas, também têm
as que buscam a primeira oportunidade de trabalho. Fernanda e Pricila
têm 18 anos e são as mais novas da turma. “No começo eu achava que era
um curso de desenho e quando cheguei aqui, descobri que era de pintura
em parede. Estou adorando”, diz Fernanda, que também fez o curso à
distância de Segurança no Trabalho, do SENAI, para completar sua
profissionalização.
Além de ensinar as técnicas da pintura, o
curso também debate sobre o comportamento do profissional. “Nós
mostramos a importância de trabalhar com segurança, pontualidade,
sinceridade e honestidade”, conta o professor Wunglen.
Pintores
profissionais estão visitando a sede do CRAS, que está sendo
transformada pelos alunos. Painéis com diferentes texturas foram
aplicados na recepção do prédio, o que está atraindo a atenção da
população, que já começa a contratar o trabalho dos aprendizes.
Após
a conclusão do curso, o prefeito do município reunirá os empresários da
cidade para apresentar os novos profissionais. Todos serão contratados
para pintar 40 casas populares, que estão sendo construídas em Cruzeta.
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