Nesta entrevista, o prefeito de Caicó, Roberto Germano, do PMDB, diz que pegou a prefeitura devendo mais de R$ 24 milhões, critica a administração passada que tinha fama de austera. Diz que tudo mudou muito desde sua ultima administração, há dez anos atrás e que agora ficou muito mais difícil administrar por causa da fiscalização. Se diz a favor da transparência administrativa e revela, satisfeito, que seus aliados de campanha estão o ajudando a administrar Caicó, com apoios importantes como o de João Maia, Henrique Alves e Garibaldi Filho em Brasilia. Confessa quem apoiará nas eleições deste ano e diz que Wilma de Faria será o que quiser nas próximas eleições. Chama o governo de Rosalba Ciarlini de “emperrado”, a denúncia de medicamentos vencidos feita pelo vereador Nildson Dantas de “armação” e que o carnaval de Caicó será do mesmo jeito do ano passado, sem bandas nacionais e com pouco dinheiro.
Qual a avaliação que o senhor faz do seu primeiro ano de governo?
Positiva, mas de muitas dificuldades. Eu não esperava encontrar o município como encontrei. E aqui não vão criticas pessoais, nem estou olhando para retrovisor. Mas esperávamos encontrar um município mais equilibrado, ate financeiramente porque se ouvia informações que o município estava equilibrado, que era governado com austeridade. E a dificuldade foi grande porque não era bem isso. Outra coisa que dificultou é que não houve transição pra que a gente pudesse tomar pé como estava o município. Encontramos salários atrasados, falta de informação com relação a pendencias judiciais, a precatórios, enfim a parte financeira com muitas dificuldades. Até 2012 a arrecadação do município era R$ 6 milhões/ano e nos deparamos com uma divida de R$ 24 milhões de reais. Então foi preciso ter criatividade para aumentar a arrecadação, pra colocar os salários dos professores em dia, pra colocar as obrigações da prefeitura em dia. Somente 25% da população pagava o IPTU, agora 75% está pagando. Isso reflete a aposta que a população fez na nossa administração. Fizemos um REFIS para equilibrar as finanças da prefeitura. Foi por isso que conseguimos pagar décimo terceiro, o salário de dezembro. Mas se você me perguntar se eu estou satisfeito, não eu não estou satisfeito. Não está do jeito que a gente quer ainda, mas a avaliação é positiva.
Qual o maior problema encontrado na prefeitura de Caicó pela administração anterior ou anteriores?
É um conjunto de problemas. Quando a questão financeira não está equilibrada atinge tudo: educação, saúde, agricultura, assistência social. É um conjunto.
Dos R$ 24 milhões que o senhor disse ter encontrado de divida, qual a origem desse débito?
R$ 12 milhoes a longo prazo e não vem só da administração passada: de INSS, FGTS. Agora os outros R$ 12 milhões sim, e foi o que emperrou mais. De 2007 a 2012 a prefeitura não pagou uma fatura sequer a Caern. Passaram cinco anos sem pagar uma fatura sequer. Em outubro de 2012 a prefeitura fez um parcelamento com a Caern dividindo R$ 750 mil em 50 meses, R$ 15 mil por mês mais R$ 5 mil da saúde mais R$ 5 mil da educação. Quando você vai para um ano é 300 mil reais.
Onde é que esse dinheiro tirado para pagar essas dividas vai faltar para a população?
Vai faltar para calçar, melhorar o posto de saúde, para fazer uma ação na zona rural, melhorar uma creche, construir mais duas, três salas de aula. Falta no conjunto. Faz falta pra quem mais precisa, que precisa do governo mesmo, quem mora lá periferia, lá na ponta, nos bairros mais afastados.
O senhor foi prefeito de 2001 a 2004. Dez anos depois está muito diferente daquela época?
A mudança é radical. A começar pelos órgãos de controle. Pela transparência que tem que ser dada. Pela maneira de fazer as coisas. Hoje é muito mais difícil administrar. As vezes a gente está no gabinete e chega um cidadão com uma receita para comprar um remédio e eu não posso dar porque não foi licitado, não está na relação da farmácia popular. E se eu der, na minha prestação de contas o Tribunal manda o prefeito devolver. Falta ate sensibilidade de quem analisa as contas. Manda devolver, bota o prefeito na lei de ficha suja, na eleição seguinte não pode ser candidato porque desviou R$ 30 reais da prefeitura e diz logo que o cara roubou. Não sabe que é porque deu um remédio que não tava na licitação a um cidadão. E por isso as contas podem ser rejeitadas.
Então hoje para administrar tem que ter muito cuidado porque a fiscalização é muito grande. Sou a favor da transparência, é justa, tem que ter. Talvez eu tenha sido o primeiro prefeito a dar transparência. Quando fui prefeito, e não tinha essa facilidade da internet, mandei fazer uma placa e botei em frente a prefeitura para dizer o quanto a gente gastava. Mas hoje é muito difícil, as vezes umas coisas bestas tem que fazer licitação, então isso emperra a administração publica. A transparência é importante para que a gente possa mostrar a sociedade como esta administrando o dinheiro do povo.
Quem lhe apoiou na campanha está lhe ajudando na administração? Cito: Garibaldi Alves, Henrique Eduardo, João Maia…
Não tem faltado apoio. Somos muito bem recebidos em Brasilia. Por João Maia, Henrique, Garibaldi. Vieram para a campanha e estão comprometidos com Caicó. E não cobraram nada em troca, não me pediram para botar fulano, beltrano, me deixaram muito a vontade para montar nossa equipe. Mesmo não tendo subido em nosso palanque, a deputada Fatima Bezerra também esta nos ajudando. Não nos tem faltado esse apoio em Brasilia.
Quer coisa mais importante do que esse Contorno Viário que João Maia trouxe para Caicó? Agora em 2014 vamos deslanchar mais ainda transformando Caicó num grande canteiro de obras.
Vereadores da oposição, liderados pelo vereador Nildson Dantas, fizeram uma denuncia em outubro passado que medicamentos estavam sendo distribuídos no distrito de Laginhas. O senhor disse que abriria uma sindicância para apurar? Fez?
Sim. Abrimos a sindicância e ela esta finalizando sem até agora ser encontrado nada do que foi denunciado. Houve uma grande armação. Isso eu digo sem medo. Eu tinha ido a Laginhas três dias antes e ninguém falou sobre isso.
O que aconteceu é que tinha sido separado uma caixa com medicamentos vencidos para ser incinerado e o carro com o pessoal do programa saúde da família tinha ido para a zona rural e quando voltasse ia passar lá pra pegar e esse medicamento vencido ser enviado para incinerar em Natal pela Cerquipe. Por coincidência o vereador Nildson foi a Laginhas e no posto de saúde a única pessoa que estava lá era um aliado seu, colocaram as caixas em cima de um birô e fizeram fotos e disseram que os remédios estavam vencidos. Estavam vencidos, mas não estavam sendo usados e já iam ser incinerados.
Ninguém nunca recebeu medicamento vencido. Muito diferente de denuncias anteriores, no passado, até em cifras milionárias, que até remédios vencidos teriam sido enterrados. A sindicância está sendo concluída e nos vamos apresentar a população no momento certo.
Roberto Germano apoia quem nas próximas eleições?
Tenho que aguardar uma definição do meu partido, o PMDB. Sem deixar de observar os companheiros que estiveram conosco em nossa campanha. Há uma tendência de continuar com uma aliança com o PT, com a reeleição da presidenta Dilma. Quanto ao senado ainda nada definido. Para governador o partido entende que deve lançar nome próprio, fazendo aliança para vice-governador, senador. Para deputado federal temos compromisso com Henrique Eduardo Alves. Aqui em Caicó tem companheiros dentro do partido que tem compromisso com o deputado João Maia, que é daqui e nosso grupo ficará dividido entre Henrique e João Maia. O PR e o PMDB são parceiros e devem estar juntos defendendo as mesmas candidaturas. Não teremos nenhuma dificuldade em manter esse entendimento aqui em Caicó. Joao Maia é da terra, tem feito muito em Caicó e no Seridó. Esse contorno rodoviário tem a marca, tem a cara de João Maia. O povo de Caicó tá agradecido a João Maia por isso. E ele vai conseguir aumentar e muito sua votação aqui. Fatima foi muito bem votada nas ultimas eleições porque ela mostrou que ela quem pleiteou o IFRN pra cá. Da mesma forma eu vejo isso agora em relação a João Maia. Para deputado estadual, tem Alvaro Dias e Nelter Queiroz, que nos apoiaram e temos que ser corretos com todos. Fala-se também na candidatura de Junior Germano a deputado estadual. Vamos respeitar. Quem quiser votar com Nelter, Alvaro, Junior Germano. Individualmente meu compromisso é com Alvaro Dias.
Como vê a movimentação de Wilma de Faria nesse processo sucessório do governo do estado?
Wilma esteve um pouco esquecida. O PMDB pecou por não ter lançado logo uma candidatura ao governo do estado, não ter definido um nome e ter preparado um nome para ser candidato a governador. Teve a avaliação de Rosalba. Wilma viu esse espaço aberto e ocupou. No inicio tímida, mas ela começou a ter receptividade positiva e se jogou de cara e com um projeto. Inicialmente a deputada federal, depois a senadora e agora até a governadora. É inegável que ela é bem avaliada, mas faltam dez meses para as eleições. Na minha opinião ela se elege ao que quiser, já que deixaram ela muito solta.
E o governo Rosalba Ciarlini?
O governo está emperrado. Faltou dialogo, mais participação. Ficou centralizado. Não andou como era pra andar. As coisas não acontecem no governo. Até a comunicação do governo não tem eficiência para divulgar as coisas do governo. Isso é centralização? Falta de comunicação? Formaram um conselho para atuar junto ao governo que nunca se reuniu. E esse grupo foi formado para tentar salvar o governo. Com Garibaldi, Henrique, João Maia. Mas nunca se reuniu. Não faltou apoio.
Faltou competência da governadora?
Talvez sim. De alguns auxiliares, não sei. A coisa amarrada. Centralizada. Talvez isso tenha dificultado. Porque foi muito recurso carreado por toda a bancada federal em favor do Rio Grande do Norte. Senadores, deputados, todo mundo junto em prol do estado, mas as coisas não andaram como eram para andar.
Foi por isso que o PMDB deixou a base aliada do governo?
O próprio deputado Henrique, nosso presidente, falou isso. Não existia diálogo, reunião, participação. Não tinha como resolver as coisas. Eu sou prefeito do PMDB e para resolver uma coisa não conseguia, era emperrado, não andava.
E o carnaval? A prefeitura vai fazer o carnaval ou vai depender se chover? O carnaval vai sair?
Vai. O carnaval hoje é como a Festa de Santana. Independente de seca ou não, o carnaval não pode deixar de acontecer. É gerador de emprego e renda. Não tem quem calcule quanto se gera de emprego e renda. Vem gente do Nordeste inteiro e do Brasil para um carnaval seguro e essas pessoas vem com dinheiro pra gastar. Quanto à água, a Caern vai ofertar a água como está oferecendo hoje. Não tem como oferecer mais. O modelo é o mesmo de 2013. Apoiando o bloco do Magão, o Treme-Treme, os Ala-Ursas. Com um apoio para quando eles chegarem na Ilha ter uma banda de apoio para tocar até duas, três horas da manhã. Em 2012 a prefeitura gastou 1 milhão e meio de reais e em 2013 gastamos 150 mil reais, ou seja, dez por cento do valor anterior e as pessoas aprovaram esse modelo. É uma nova forma de fazer o carnaval. Começa as 4 da tarde e fica direto até de madrugada. Se chover, a dimensão do carnaval é maior ainda. Quando chove ai é que o carnaval é bom.
Caso não chova, a prefeitura já preparou uma força tarefa para enfrentar as consequências de mais um ano de seca?
Creio que teremos um grande inverno. As experiências dos mais velhos dizem isso, todo ano terminado em 4 é bom de inverno. Mas é preocupante. Se não chover e se Coremas não tomar água vamos trazer água de onde? Qual a força tarefa? Tem que ser pelo governo federal, nem o município nem o governo teriam condições. É preocupante. Se não chover ninguém sabe ainda como é que vai ser esse plano B. Se você me perguntar eu não sei não. A gente vai ter que discutir. Hoje eu não teria condições de dizer a você. É muito complicado.
Mensagem para os caicoenses em 2014?
Acredito que 2014 será bem melhor e a população tenha certeza que tem um prefeito que gosta do povo e pensa Caicó 24 horas e quer o melho. A grande missão do prefeito é cuidar bem do seu povo. Deixo um abraço e a certeza que vamos administrar sempre indo as comunidades para ouvir o que a população quer que a gente faça. Um beijo no coração de todos.
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